5.30.2006

This is just one of my favorite things

TAKE A GOOD LOOK...



Your vision will become clear only when you can look into your heart.
Who looks outside, dreams.
Who looks inside, awakes.
CARL JUNG
A Desordem da Minha Natureza
(...) enfrentei pela primeira vez o meu ser natural enquanto decorriam os meus noventa anos. Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo, não era o prémio merecido de uma mente ordenada mas, pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, mas como reacção contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez, que passo por prudente por ser pessimista, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que não se saiba que pouco me importa o tempo alheio. Descobri, por fim, que o amor não é um estado de alma mas um signo do Zodíaco.
Gabriel García Marquez,
'Memória das Minhas Putas Tristes'


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Roxanne Swentzell
...
Roxanne Swentzell

5.29.2006

This is just one of my favorite things


RETALHOS

Notebooks of Leonardo Da Vinci
...
506.
PAINTING.

The mind of the painter must resemble a mirror, which always takes
the colour of the object it reflects and is completely occupied by
the images of as many objects as are in front of it. Therefore you
must know, Oh Painter! that you cannot be a good one if you are not
the universal master of representing by your art every kind of form
produced by nature. And this you will not know how to do if you do
not see them, and retain them in your mind. Hence as you go through
the fields, turn your attention to various objects, and, in turn
look now at this thing and now at that, collecting a store of divers
facts selected and chosen from those of less value. But do not do
like some painters who, when they are wearied with exercising their
fancy dismiss their work from their thoughts and take exercise in
walking for relaxation, but still keep fatigue in their mind which,
though they see various objects [around them], does not apprehend
them; but, even when they meet friends or relations and are saluted
by them, although they see and hear them, take no more cognisance of
them than if they had met so much empty air.
...
Leonardo Da Vinci
CONVERSAS COM SARAH AFFONSO
...
Um dia a minha filha trouxe-me um dos Códices do Leornardo da Vinci, que era a compilaçao das últimas obras dele. 0 Leonardo da Vinci morreu com uns 90 e tal. Quando corneçou a ficar muito veiho foi viver para casa dum discípulo querido, onde fez uma série de desenhos. Punha debaixo do braço uma resrna de papel e ia para o campo desenhar. Ficava por fora todo o dia e só vinha á noite. Quando morreu toda essa obra ficou em casa do discípulo, que com uma grande admiração, guardou tudo.Por sua vez o discípulo morreu e ficou o filho, que começou a vender e a dispersar todos os desenhos, uns para aqui outros para acolá.Uns foram parar a Inglaterra, outros a Espanha e outros ainda ficararn em Itália. Foi um espanhol que conseguiu reunir tudo de novo e fazer o tal códice. Eu vi o livro e passados uns dias sou operada.Com aquelas drogas que dão para anestesiar tive alucinaçöes e sonhos.Muitas vezes nesses sonhos via o Leonardo da Vinci a fazer desenhos de flores e ervinhas selvagens. Depois da operação passada, fui-me restabelecer para Bicesse e ia cheia de vontade de desenhar. Os sonhos com o Leonardo da Vinci tinharn-me aberto o apetite para aquelas flores e folhas... Desenhei, desenhei e mais tarde quando voltei para Lisboa encontro o Códice e com muita curiosidade peguei nele para o desfolhar. Não havia praticarnente desenhos de flores, eramn de máquinas, coisas de engenharia! Como ele ia para o carnpo, entendi que ia desenhar e ervas, mas no fmn quem queria desenhar plantas e ervas era eu!
...
Maria José de Almada Negreiros
ARCADIA ,1882
IMAGES
LEONARDO DA VINCI
...
Rigth:Primeiro desenho, 1911
Left:SARAH AFFONSO,Paris

5.23.2006

This is just one of my favorite things

ILUSIONS


THE FAST MIRROR AND THE SLOW

One spring Princess Ateh said: “I have grown accustomed to my thoughts, as to my dresses. They always have the same waistline, and I see them everywhere, even at the crossroads .Worst of all they make it impossible to see the crossroads any more.” One day, hoping to amuse her, the princess’s servants brought her two mirrors. They were much like other Khazar mirrors. Both were made of shiny salt, but one was fast and the other slow. Whatever the fast mirror picked up, reflecting the world like an advance on the future, the slow mirror returned, settling the debt of the former, because it was as slow in relation to the present as the other was fast. When they brought the mirrors to Princess Ateh, she was still in bed and the letters had not yet been washed off her eyelids. She saw herself in the mirrors with closed lids and died instantly. She vanished between two blinks of the eye, or better paid, for the first time she read the lethal letters on her eyelids, because she had blinked the moment before and the moment after, and the mirrors had reflected it. She died, killed simultaneously by letters from both the past and the future.
...
From: DICTIONARY OF THE KHAZARS

MILORAD PAVIĆ

Morta
Morta,
Como és clara,
Que frescura ficou entre os teus dedos...
És uma fonte,
Com pedras brancas no fundo,
És uma fonte que de noite canta
E silenciosamente
Vêm peixes de prata à tona de água.
Morta como és clara,
E florida ...
És a brisa
Que num gesto de adeus passa nas folhas,
És a brisa que leva os perfumes e os entorna,
És os passos leves da brisa
Quando nas ruas não passa mais ninguém!
És um ramo de tília onde o silêncio floresce,
És um lago onde as imagens se inquietam,
És a secreta nostalgia duma festa
Que nos jardins murmura.
Cantando
Com as mãos deslizando pelos muros
Passas colhendo
O sangue vermelho e maduro das amoras
Vais e vens
Solitária e transparente
E a memória das coisas te acompanha.
Morta como és clara,
E perdida!
És a meia-noite da noite,
És a varanda voltada para o vento,
És uma pena solitária e lisa,
As sombras recomeçam a dançar,
O perfume das algas enche o ar
E as ramagens encostam-se às janelas:
Suaves cabelos de pena tem a brisa.
Sozinha passas no fim das avenidas.
Não mostras o teu rosto,
Passas de costas com um vestido branco.
Como tu és leve e doce como um sono!
O sopro da noite enche-se de angústia
E de mim sobem palavras solitárias:
És o perfume de infância que há nas rochas,
És o vestido de infância que há nos campos,
És a pena de infância que há na noite.
Subitamente
Agarro perco a forma do teu rosto:
Como tu és fresca!
Passas e dos teus dedos correm fontes.
Como tu és leve,
Mais leve que uma dança!
Mal chegaste, mal voltaste, mal te vi
Já no fundo dos caminhos te extinguiste:
Areia lisa e branca que nenhum passo pisa
Pena lisa
Angústia fonte fresca e brisa.


Sophia de Mello Breyner Andresen

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1,2,
UNIDENTIFIED ARTISTS


5.20.2006

This is just one of my favorite things


EVERY STEP YOU TAKE
EVERY MOVE YOU MAKE...


Deste Modo ou Daquele Modo

Deste modo ou daquele modo.
Conforme calha ou não calha.
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma cousa feita de gestos,
Como se escrever fosse uma cousa que me acontecesse
Como dar-me o sol de fora.
Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à idéia
E não precisar dum corredor
Do pensamento para as palavras

Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza produziu.

E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza, e mais nada.
E assim escrevo, ora bem ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

Ainda assim, sou alguém.
Sou o Descobridor da Natureza.
Sou o Argonauta das sensações verdadeiras.
Trago ao Universo um novo Universo
Porque trago ao Universo ele-próprio.

Isto sinto e isto escrevo
Perfeitamente sabedor e sem que não veja
Que são cinco horas do amanhecer
E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça
Por cima do muro do horizonte,
Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos
Agarrando o cimo do muro
Do horizonte cheio de montes baixos.

Alberto Caeiro

The Madman
His Parables and Poems

You ask me how I became a madman. It happened thus: One day, long before many gods were born, I woke from a deep sleep and found all my masks were stolen,—the seven masks I have fashioned an worn in seven lives,—I ran maskless through the crowded streets shouting, “Thieves, thieves, the cursed thieves.” Men and women laughed at me and some ran to their houses in fear of me. And when I reached the market place, a youth standing on a house-top cried, “He is a madman.” I looked up to behold him; the sun kissed my own naked face for the first time. For the first time the sun kissed my own naked face and my soul was inflamed with love for the sun, and I wanted my masks no more. And as if in a trance I cried, “Blessed, blessed are the thieves who stole my masks.” Thus I became a madman. And I have found both freedom of loneliness and the safety from being understood, for those who understand us enslave something in us. But let me not be too proud of my safety. Even a Thief in a jail is safe from another thief.

Kahlil Gibran


SOUND
Mutiny on the bounty
VANGELIS

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MALOU

5.19.2006

This is just one of my favorite things

HOPE FOR THE TRUTH
A verdade foi me revelada
há uma dezena de anos.
Quando se procura a verdade ela
tem sempre um jeito de nos encontrar .
A UM LIVRO
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cypreste.
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de máguas que me deste.
Extranho livro aquele que escreveste
Artista da saudade e do sofrer!
Extranho livro aquele em que puzéste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!
Leio-o e folhêio, assim, toda a minh'alma!
O livro que me déste é meu e psalma
As orações que choro e rio e canto!...
Poeta egual a mim, ai quem me déra
Dizer o que tu dizes!... Quem soubéra
Velar a minha Dôr desse teu manto!...
Florbela Espanca

For Our Lady of the Rocks
by Leonardo Da Vinci

Mother, is this the darkness of the end,
The Shadow of Death? and is that outer sea
Infinite imminent Eternity?
And does the death-pang by man's seed sustained
In Time's each instant cause thy face to bend
Its silent prayer upon the Son, while He
Blesses the dead with His hand silently
To His long day which hours no more offend?

Mother of grace, the pass is difficult,
Keen are these rocks, and the bewildered souls
Throng it like echoes, blindly shuddering through.
Thy name, O Lord, each spirit's voice extols,
Whose peace abides in the dark avenue
Amid the bitterness of things occult.
by Dante Gabriel Rossetti

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BOOK COVER: "BLOODLINE OF THE HOLY GRAIL"
OUR LADY OF THE ROCKS: LEONARDO DAVINCI

5.16.2006

This is just one of my favorite things

JOY
The dualities of JOY

JOY; The feeling of happiness, extreme cheerfulness.

ALEGRIA ;s.f, contentamento; regozijo; satisfação;
prazer; festa divertimento; júbilo; jovialidade;
acontecimento feliz.

IN:
Albanian: gaz m
Catalan: alegria f, joia f
Croatian: radost f
Finnish: ilo, riemu
French: joie f
German: Freude f
Hebrew: שמחה (simkhá) f.
Hungarian: öröm
Icelandic: gleði f.
Italian: gioia f.
Old English: wynn f, drēam m, ġefēa m
Slovene: radost f
Turkish: haz

Joy and Sorrow

Then a woman said, 'Speak to us of Joy and Sorrow.'
And he answered:
Your joy is your sorrow unmasked.
And the selfsame well from which your laughter rises was oftentimes filled with your tears.
And how else can it be?
The deeper that sorrow carves into your being, the more joy you can contain.
Is not the cup that hold your wine the very cup that was burned in the potter's oven?
And is not the lute that soothes your spirit, the very wood that was hollowed with knives?
When you are joyous, look deep into your heart and you shall find it is only that which has given you sorrow that is giving you joy.
When you are sorrowful look again in your heart, and you shall see that in truth you are weeping for that which has been your delight.
Some of you say, 'Joy is greater than sorrow,' and others say, 'Nay, sorrow is the greater.'
But I say unto you, they are inseparable.
Together they come, and when one sits alone with you at your board, remember that the other is asleep upon your bed.
Verily you are suspended like scales between your sorrow and your joy.
Only when you are empty are you at standstill and balanced.
When the treasure-keeper lifts you to weigh his gold and his silver, needs must your joy or your sorrow rise or fall.

Kahlil Gibran
Alegrial Alegrial

Alegria, bela centelha dos deuses,
filha do Eliseu,
ardentes de ebriedade penetramos
no teu santuário, Ó celestial!
Os teus encantos voltam a unir
o que o rigor da moda desuniu;
todos os homens ficam irmãos,
lá onde a tua doce asa plana.

Quem teve a fortuna de encontrar
num amigo um amigo,
quem conquistou uma nobre esposa,
venha juntar o seu contentamento ao nosso!
Sim!, quem pode chamar sua
a uma alma sobre a Terral
Mas a quem nunca isso foi dado,
que se afaste, chorando, do nosso grupo!

Todos os seres bebem a alegria
dos peitos da Natureza,
bons e maus,
seguem todos o seu rasto de rosas.
Deu-nos ela os beijos e a vinha,
um amigo fiel até morte;
ao verme foi dada a volúpia,
e o Querubim está plantado diante de Deus.

Alegres! Alegres!

Alegres, como os sóis que voam
pela planície esplêndida do céu,
fazei, irmãos, a vossa caminhada,
jubilosos como um herói que corre para a vitória!

Abraçai-vos, milhões de seres!
Este beijo ao mundo inteiro!
acima da abóbada estrelada
necessário é que habite um bom pai.

Prosternai-vos, milhões de seres?
Mundo, pressentes tu o Criador?
Busca para lá da abóbada estrelada
Para além das estrelas deve ele morar.
Friederich Schiller

SOUND
Ode to joy
BEETHOVAN

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Claude Theberge
Malou

5.15.2006

This is just one of my favorite things

PIONEERS
The Diary of Anais Nin
What I like best about myself ..is my audacity,
my courage. The ways I have found to be true to
myself without causing too much pain or damage..
What I hate so much is my vanity, my need to shine,
my need of applause and my sentimentality. I would
like to be harder. I cannot make a joke, make fun
of anyone, without feeling regrets.

The diary was once a disease. I do not take it up
now for the same reasons. Before it was because
I was lonely , or because I did not know how to
communicate with others. I needed the communion.
Now it is to write , not for solace but for the pleasure
of describing others, out of abundance.

I have not been unaware of the political drama
going on, but I have not taken any sides because
politics to me, all of them seem rotten to the core
and all based on economics , not humanitarianism.
The suffering of the word seemed to me without
remedy except by what we could give individually.
I did not trust any movement or system...

...nothing changes the nature of man. I know too
well that man can only change himself psychologically,
and that fear and greed make him inhuman, and it
is only a change of roles we attain with each revolution,
just a change of men in power, that is all, the evil remains.
The personal life deeply lived always expands into truths beyond itself.
Anais Nin
Volume Two
(1934-1939)
O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios,
tão indispensável como a poesia.
Anais Nin
IMAGES
ANAIS NIN
ANAIS NIN
Unidentified artists

5.14.2006

This is just one of my favorite things


WEARING RED
Amanhã vou comprar umas calças vermelhas

Amanhã vou comprar umas calças vermelhas
porque não tenho rigorosamente nada a perder:
contei, um a um, todos os degraus
sei quantas voltas dei à chave,
sublinhei as frases importantes,
aparei os cedros,
fechei em código toda a escrita.

Amanhã comprarei calças vermelhas
fixarei o calendário agrícola
afiarei as facas
ensaiarei um número
abrirei o livro na mesma página
descobrirei alguma pista.

Ana Paula Inácio
Mary Wore a Red Dress

Mary wore a red dress,
red dress, red dress,
Mary wore red dress all day long.

Mary wore a red hat, red hat, red hat,
Mary wore a red hat all day long.

Mary wore her red shoes, red shoes, red shoes,
Mary wore red shoes all day long.

Mary wore her red gloves, red gloves, red gloves,
Mary wore her red gloves all day long.
Mary was a red bird, red bird, red bird,
Mary was a red bird all day long
Child's rhyme



SOUND
Tom Waits
Red Shoes

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Howard sokol
Unidentified artist

5.13.2006

This is just one of my favorite things

QUOTES

O passaro nao canta porque tem uma resposta
Canta porque tem uma cancao
-Maya Angelo
IMAGE
unidentified artist

5.12.2006

This is just one of my favorite things

MUCH ADO ABOUT NOTHING

Laughter

I Laugh at Life: its antics make for me a giddy games,
Where only foolish fellows take themselves with solemn aim.
I laugh at pomp and vanity, at riches, rank and pride;
At social inanity, at swager, swank and side.
At poets, pastry-cooks and kings, at folk sublime and small,
Who fuss about a thousand things that matter not at all;
At those who dream of name and fame, at those who scheme for pelf. . . .
But best of all the laughing game—is laughing at myself.

Some poet chap had labelled man the noblest work of God:
I see myself a charlatan, a humbug and a fraud.
Yea, ’spite of show and shallow wit, an sentimental drool,
I know myself a hypocrite, a coward and a fool.
And though I kick myself with glee profoundly on the pants,
I’m little worse, it seems to me, than other human ants.
For if you probe your private mind, impervious to shame,
Oh, Gentle Reader, you may find you’re much about the same.

Then let us mock with ancient mirth this comic, cosmic plan;
The stars are laughing at the earth; God’s greatest joke is man.
For laughter is a buckler bright, and scorn a shining spear;
So let us laugh with all our might at folly, fraud and fear.
Yet on our sorry selves be spent our most sardonic glee.
Oh don’t pay life a compliment to take is seriously.
For he who can himself despise, be surgeon to the bone,
May win to worth in others’ eyes, to wisdom in his own.

Robert Service

Soneto


Arda de raiva contra mim a intriga,
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, pérfida inimiga.
Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.

Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.

Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.

Junqueira Freire

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Olivier follmi
Unidentified author

5.11.2006

This is just one of my favorite things

REDESCOBRIR O SOM DO BRASIL
AS MULHERES OCAS

NÓS SOMOS as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champanhe
E pernas de salto alto
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.

Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com os nossos rostos de opala.
Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olharnos como sem ver
Com nossos olhos cromados.

Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem mandia ser fútil
Fomos alunas bilíngues
De <> e <>
Mas adorar, só adoramos
A imagem do deus Mamon.

Nós somos as esotéricas
Filhas do Ouro com a Miséria o gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.
Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na ascéptica companhia
Do nosso machos-de-abelha.

Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do abismo
Mas nada nos incomoda
De vez que ha sempre quem paga o luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.

Nós somos as granfunestas
As onézimas letais
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social.

Vinicius de Moraes
To——
Oh! well I know your subtle Sex,
Frail daughters of the wanton Eve,—
While jealous pangs our Souls perplex,
No passion prompts you to relieve.

From Love, or Pity ne’er you fall,
By you, no mutual Flame is felt,
“Tis Vanity, which rules you all,
Desire alone which makes you melt.

I will not say no souls are yours,
Aye, ye have Souls, and dark ones too,
Souls to contrive those smiling lures,
To snare our simple hearts for you.

Yet shall you never bind me fast,
Long to adore such brittle toys,
I’ll rove along, from first to last,
And change whene’er my fancy cloys.

Oh! I should be a baby fool,
To sigh the dupe of female art—
Woman! perhaps thou hast a Soul,
But where have Demons hid thy Heart?

George Gordon Lord Byron



SOUND
Garota de Ipanema
Gal Costa, Tom Jobim

IMAGES
Unidentified author
Unidentified author

5.10.2006

This is just one of my favorite things

VISUAL POETRY
As I Lay Dying

Doug Rice


Untitled
1997

Giuseppe Chiari

MathaUnidentified artist

Lembras- te de quando tudo era diferente Ana hatherly

Entassement
1965

Alain Satie

SOUND
Karen Matheson

5.08.2006

This is just one of my favorite things

MÃES

Mãe Vem Ouvir
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda
não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra
senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo
saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me ao teu lado. Tu a coseres e eu a
contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão
parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as
mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito
apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a
mesa. Eu também quero Ter um feitio que sirva
exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

Almada Negreiros

Mother, I Cannot Mind My Wheel

Mother, I cannot mind my wheel;
My fingers ache, my lips are dry:
Oh! if you felt the pain I feel!
But Oh, who ever felt as I?

No longer could I doubt him true;
All other men may use deceit:
He always said my eyes were blue,
And often swore my lips were sweet.

Walter Savage Landor

SOUND
Michael Buble

This song always said
'mother and child' to me

IMAGE
Malou
Pablo Picasso

5.07.2006

This is just one of my favorite things

PARIS

I Love Paris
Every time I look down on this timeless town
whether blue or gray be her skies.
Whether loud be her cheers or soft be her tears,
more and more do I realize:
I love Paris in the springtime.
I love Paris in the fall.
I love Paris in the winter when it drizzles,
I love Paris in the summer when it sizzles.
I love Paris every moment,
every moment of the year.
I love Paris, why, oh why do I love Paris?
Because my love is near.
Cole porter

Para Viver Um Grande Amor

Para viver um grande amor
Precisa muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor
O mistério é ser um homem e uma só mulher
Pois ter muitas, pôxa, é prá quem quer
Não tem nenhum valor
Para viver um grande amor
Primeiro é preciso sagrar-se um cavalheiro
Ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde enclausure-se a mulher amada
Postar-se de fora como espada
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor
Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador
É sempre necessário, pelo visto,
Um crédito de rosas num florista
E mais, muito mais que um modista
Para viver um grande amor
E tampouco saber fazer cozinhais
Ovos mexidos com arroz, sozinhas, molhos
Filés com fritas, comezinhas para depois do amor,
E o que há de melhor que ir prá cozinha
E preparar com amor uma galinha e uma gostosa farinha
Para o seu grande amor
Para viver um grande amor,
É muito, muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
Para não morrer de dor
É preciso um cuidado permanente,
Não só com o corpo mas também com a mente
Pois qualquer baixo seu a amada sente
E esfria um pouco o amor
Há que ser bem cortês, sem cortesia
Grosso e conciliador, sem covardia
Saber ganhar dinheiro com poesia,
Não ser um ganhador
Mas tudo isso não adianta nada
Se nessa selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada
Para viver um grande amor
Vinicius de Moraes

SOUND
I Love Paris
-Ella Fitzgerald

IMAGES
-Brent Heighton
-Jack Vettriano




5.05.2006

This is just one of my favorite things

INTENSITY
The Horsemen
I
It was a room above the alcove
in a city renewed by junipers
And by desires...
Stripped of words,
the moments recalled;
where the tower,
lo, was in sight:
memories undaunted by sound
or flames of the amethyst,
spoke to me;
spoke to me like the preacher from…
I recall this moment staggering through the wind,
when its breath hissed at the earth;
as we leaned out of the window
in that moment when the first light
streaked, joyous, out of the unalterable street...
Then, tuned to the immanent choir of the grassland,
untangling from the sea -
Then, stripped to the last detail, from her sinewed skin,
disheveled in the light, one aria from the immaculate concertina -
before her rebirth
a tongue licked through the core of my soul
II
Strange men in dark garments
riding in slow, weary steps,
paces of a far and distant journey -
in measured gestures
The clatter of hooves on the stone of the
street; wakened from the depths of
their tombs, long dead ghosts,
memories of a carnage -
There was fear bred in that silence,
nothing triumphant in their last march
nothing triumphant where
once a plot is weaved, a rider rides
into anonymity:
what is it that they seek -
These silent riders?
Glory? Memory?
What is it that they want among those
who have fallen from their swords?
Piety? Ablution? Anonymity?
It is not enough to bury the sword
in the fold of the embrace;
nor is it wise, even prudent, to
seek meaning in past deeds
when those deeds are immortal,
or of an impure genealogy -
What do they seek in the bowel of the tide;
in that place, where Onishe,
spirit-mother, swallowed the ravishers of her children?
Graves? Graves in the tide?
III
Theirs are troubled gestures full of potent wishes.
…are those wishes -
for as they came, those riders, each
hoof in the ascent;
each eye veiled by remorse, or anger or
a forlorn thought -
for as they came, weighed down by ancient baggage,
a skin of water, a measure of wheat, some
penicillin, in case of epidemica
stretcher to fetch the dead;
an hourglass, and then the gloved idol,
the one that ordered the massacre -
who rode ahead of the light;
muttered a command: 'halt!'.
Obi Nwakanma

O navio de espelhos

O navio de espelhos
não navega cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo

Mário Cesariny

SOUND:
HANS ZIMMER
Soundtrack 'BACK 'BLACK HAWK DOWN'

IMAGES:
1
From 'THE LORD OF THE RINGS'
2
Unidentified artist

5.04.2006

This is just one of my favorite things

KISS

0 BEIJO


Congresso de gaivotas neste céu

Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.

Querela de aves, pios, escarcéu.

Ainda palpitante voa um beijo.


Donde teria vindo! (Nào é meu...)

De algum quarto perdido no desejo?

De algum jovem amor que recebeu

Mandado de captura ou de despejo?


É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Urn coração verrnelho pelo ar.


E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!

De inveja as gaivotas a gritar...


ALEXANDRE O’NEIL


Come And Kiss Me Sweet And Twenty

Apple blossoms falling o’er thee,
And the month is May,
Laden bows bend low before thee,
With their gentle sway;
Look you where the thrush is swinging
How his melody is ringing,
As he sings my heart is singing:—
Come and kiss me sweet and twenty,
Love blooms out with flowers a-plenty,
Love me, love me without reason,
Kiss me, now’s the kissing season,
White your cheek is as the blooms are,
Sweet your breath as perfumes are,
Is this dolce far niente,
Come and kiss me sweet and twenty.
Love is at thy window suing,
All the live-long day,
Stay and listen to my wooing,
Life shall all be May.
Love like mine can falter never
Naught from thee my heart can sever
And my song shall be forever:—
Come and kiss me sweet and twenty,
Love blooms out with flowers a-plenty,
Love me, love me without reason,
Kiss me, now’s the kissing season,
White your cheek is as the blooms are,
Sweet your breath as perfumes are,
Is this dolce far niente,
Come and kiss me sweet and twenty.

Paul Laurence Dunbar
(1872—1906)



SOUND:
Kissing a Fool
The great Michael Buble
IMAGES:
1
Arellano Migdalia
2
Gustav Klimt

5.02.2006

This is just one of my favorite things

THE SOUNDS OF SUFI
Sama or sema,
the Mevlavi ceremony of whirling that symbolizes union with existence.

Only Breath

Not Christian or Jew or Muslim,
not Hindu, Buddhist, Sufi or Zen.
Not any religion, or cultural system.
I am not from the East or the West,
nor out of the ocean or up
from the ground, not natural or ethereal,
not composed of elements at all.
I do not exist, am not an entity in this world
or the next,
did not descend from Adam and Eve
or any origin story.
My place is placeless, a trace of the traceless.
Neither body nor soul.
I belong to the beloved
have seen the two worlds as one
and that one call to and know,
First, last, outer, inner, only that
breath breathing human
Jalaluddin Rumi
Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.

RUMI
Music is to develop the consciousness, poetry is wisdom,"

SOUND:
Touba-Daru Salaam
YOUSSOU N'DOUR
PHOTOS:
1,2 Unidentified authors

5.01.2006

This is just one of my favorite things

BEAUTY




Photo:

Malou

Sound:

Your precious love
Randy Crawford and Al Jarreau