7.01.2006

This is just one of my favorite things

RUI BELO


SETE COISAS VERDADEIRAS

EM CIMA DE MEUS DIAS


Muita gente me tem falado a meu respeito
como quem me chamasse pelo nome e eu me voltasse
e nesse nome dito nessa boca fosse toda a minha vida
e eu morresse quando entre pinhais quem me chamara a [fechasse

Muita gente me tem falado a meu respeito
mas eu cresço e decresco não reparo e anoitece
e já nem sei ao certo quantos dias meço
Regresso com o gado contra o sol rasante
Mas é de névoa ou fumo o algodao que cobre as casas
aonde regressamos atraídos pela luz que já nos campos se [consome?

Os ciprestes os pássaros saúdam-me e eu passo
com um olho vasado transpareco o meu passado
e tudo esqueco e peço mesmo aDeus que esqueca quanto sou
além dessa medida simples onde me vasou
Sabermos nos que a face de algum mar ao pôr-do-sol pode [mudar
e nenhum dia-a-dia consentir ao homem mais que a mama [superfIcie
dos gestos por que troca a mais Intima morte que merece

Nada na minha poesia é meu
juro por Deus dizer toda a verdade
Ponho a mão na cabeça o dia e escuro e vago e eu respire
Espero pela manhã como quem nasce
Ninguém sabe o meu nome porque
eu já perdi ao longe alguns dos olhos
e fui feliz em cafés de provincia onde me vi sentar

Digam que foi mentira, que nao sou ninguém,
que atravesso apenas ruas da cidade abandonada
fechada como boca onde não encontro nada:
não encontro respostas para tudo o que pergunto nem
na verdade pergunto coisas por aí além
Eu não vivi ali em tempo algum

E de manhã caminho nem meus passos oiço
oitenta passos diz-se que darei
Vão-se fechando os dois alinhamentos das moradas
arredonda-se o largo, alguns problemas camarários
Duvido de mim próprio: quem serei?
o carro rega coisas tao profundas como esta
Meu Deus meu Deus, que mal eu fiz?
Eu estive em Dinard e you talvez casar
Acordo e transistorizo os dois ouvidos numa música abundante

Muita gente me tem falado a meu respeito
mas eu cresço e minguo certas vezes anoitece
Sou coisa que se molha encolhe e envelhece
tudo me aquece e tudo me arrefece
Dois pés e duas mãos, algumas pás de terra
E sabem mesmo que o meu nome eRá, por isso me conhecem
Sou a doenca e sou onde me dói
sou sitio onde se nega que se morre
Tem graça haver quem fale a meu respeito
RUI BELO
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Gerard Dubois

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