4.12.2006

This is just one of my favorite things

A CIDADE
JC CELEBRA 0 DIA DO POETA

Quão diferentes acho, teu fado e o meu, quando os cotejo:
outra causa nos fez, perdendo Tejo. eoncontrar novos aires e
desaires; e versos tão diversos escrevemos, os teus famosos e heróicos
a mim cabendo avez da negativa epopeia; nãn te imito
nos dons da natureza. nem as eras são de
igual grandeza. mas ambos regressámos à l usitana praia e
hoje penso em ti junto ao teu mar. neste bafo de fomo que
se abre às tardes em quo o calor me deixa entonteado, o ar
ardento enchendo o peito de felicidade; na brisa seca levi.
tar, no verde cheiro a algas, na vastidão pela vista limitada
e não por margens senão as do velho Tejo degradado. pobre
rio, com silos e tanques do gasolina até junto ao estuário
amado Tejo em que me revejo e não sem revolta aceito, o ter
de um dia te deixar, abandonar o gosto de te olhar do alto
destas ruas donde brilhas com reflexos de sol e de barcos
que passam devagar, Tejo monótono e mutável, trazendo,
levando areias e sargaços e mastros e dejectos e desastres;
morrer já bateu certo quando era atravessar um rio, talvez
o Tejo nascendo dos infernos carregado da memória dos
mortos que pesam na cidade de modo exagerado, Lisboa
onde vagueio por viela vazias de feriado, rua dos Remo-
lares, largo do S. Paulo, ruelas ribeirinhas com drogarias
tão antiquadas que merecem a falsa eternidade dos catá-
logos, loja arcaicas, mercearias sujas e finas. alfaiatarias
hibernadas desde a vinda do pronto a vestir, barbeiros de
brilhantina e camisa de domingo passeando nas travessas
desertas, ao longe ruídos de rodas de ferro ms curva das
calhas dos eléctricos, Lisboa entregue á bicharada, ao lixo.
aos ratos. Lisboa descansando das manifestacões diárias. dos
punhos fechados do povo unido desunido quo julga jamais
será vencido, no naufrágio geral, no sufrágio universal, na
catástrofe que se aproxima perante a indiferença da cidade,
nisso decerto sábia; eis-me pois entre fastos passados e nefas-
tos futuros aqul esquecido do mundo neste canto onde canto
contudo os que se vão afogar e insistem em nadar sem saber
para onde, contra tudo e todos, contra as ondas, contra marés
inelutáveis, contra mares há muito navegados.

Almeida Faria
The City of Dreadful Night
Excerpt
VII
Some say that phantoms haunt those shadowy streets,
And mingle freely there with sparse mankind;
And tell of ancient woes and black defeats,
And murmur mysteries in the grave enshrined:
But others think them visions of illusion,
Or even men gone far in self-confusion;
No man there being wholly sane in mind.

And yet a man who raves, however mad,
Who bares his heart and tells of his own fall,
Reserves some inmost secret good or bad:
The phantoms have no reticence at all:
The nudity of flesh will blush though tameless
The extreme nudity of bone grins shameless,
The unsexed skeleton mocks shroud and pall.

I have seen phantoms there that were as men
And men that were as phantoms flit and roam;
Marked shapes that were not living to my ken,
Caught breathings acrid as with Dead Sea foam:
The City rests for man so weird and awful,
That his intrusion there might seem unlawful,
And phantoms there may have their proper home.
JAMES THOMSON
January 1882

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